RELATÓRIO
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO EM AGROECOLOGIA E AGRICULTURA ORGÂNICA
Introdução:
A agricultura química, apesar de suas vantagens, traz consigo impactos ambientais negativos significativos. Não se pode conceber a agricultura moderna sem suas variedades super produtivas e adaptadas a um ambiente totalmente controlado com adubos solúveis e agro-químicos para manter esta artificialidade. Os impactos ambientais desses produtos geralmente não são incorporados nos custos privados de produção, distorcendo os preços de mercado dos produtos por ela gerados. A agricultura química gera, portanto, externalidades negativas. O ônus dessas externalidades (degradação e/ou poluição) é arcado pela sociedade com um todo, não pelos produtores privados (Mazzoleni & Nogueira 2006). As avaliações de risco-padrão de transgênicos lidam com os riscos diretos (de curto prazo) à saúde humana e ao ambiente, associados aos mecanismos biológicos, químicos, bioquímicos e físicos, cujas quantidades possam ser quantificadas e as probabilidades estimadas. Portanto, ignoram os riscos de longo prazo e raramente colocam em prática a monitoração sistemática dos efeitos acumulativos potenciais sobre a saúde e o meio ambiente, do cultivo e do consumo de transgênicos; ignoram, igualmente, os riscos indiretos potenciais implicados nos contextos e mecanismos socioeconômicos, como riscos à biodiversidade pelo uso disseminado de monoculturas transgênicas, as ameaças à viabilidade de formas alternativas de agricultura (por exemplo, a orgânica), e as ameaças à segurança do mundo resultantes de um cenário onde corporações privadas controlem de forma mais ainda ampla os recursos mundiais de alimentos e sementes (Lacey 2007).
Nos marcos dessa concepção modernizadora na agricultura, a pesquisa e o desenvolvimento dos sistemas de produção foram orientados para a incorporação de pacotes tecnológicos tidos como de aplicação universal destinados a maximizar o rendimento dos cultivos em situações ecológicas profundamente distintas. Contrapondo-se a este movimento, surgiram no Brasil e no mundo, movimentos de agricultura alternativos ao convencional, contrapondo-se ao uso abusivo de insumos agrícolas industrializados, da dissipação do conhecimento tradicional e da deterioração da base social de produção de alimentos. Para esses movimentos a solução não estava em alternativas parciais, mas no rompimento com a monocultura e o redesenho dos sistemas de produção de forma a minimizar a necessidade de insumos externos à propriedade. Intensificou-se, então, o reconhecimento de modelos agrícolas que considerassem a importância das diferentes interações ecológicas para a produção agrícola (Assis 2006). Na conversão de sistemas convencionais para sistemas orgânicos de produção, muitos aspectos devem ser considerados, em especial os econômicos e políticos que condicionam a adoção da agricultura orgânica junto a diferentes estratos socioeconômicos de agricultores, e que precisam ser considerados quando se pensa na difusão em larga escala dessa forma de produção, exigindo um apoio mais expressivo, que considere suas especificidades, por parte da política agrícola do Estado (Assis & Romeiro 2007).
Evidências de pesquisas científicas sustentam que os métodos agroecológicos têm capacidade para gerar uma alta produtividade em culturas essenciais e, ao mesmo tempo, com menos riscos. Além disso, mesmo que a agricultura baseada em transgênicos seja capaz de alimentar o mundo, podem existir alternativas “melhores”. Mais especificamente, pode existir uma diversidade de métodos alternativos complementares, específicos ao local, que, a um só tempo, (a) produzam gêneros alimentícios nutritivos, ambientalmente sustentáveis, que protejam a biodiversidade e fortaleçam as comunidades locais; (b) estejam mais em sintonia com as aspirações das comunidades rurais e as variações regionais e culturais; (c) sejam capazes de desempenhar um papel integral na produção de alimentos necessários para abastecer a crescente população mundial; e (d) sejam particularmente apropriados para garantir que as populações rurais dos países “em desenvolvimento” recebam alimentos e nutrientes suficientes, de forma que, sem a sua consolidação, é provável que os padrões atuais de fome persistam (Lacey 2007).
Deve-se observar também que a manutenção de alta produtividade, a longo prazo, depende da preservação da biodiversidade, da saúde humana e ambiental, e da ausência de conflitos sociais e violentos (Altieri 1995 apud in Lacey 2000). Lembrando tudo isso, pode-se ficar cético quanto à idéia de que as culturas transgênicas vão permitir que a humanidade seja alimentada. Afinal, elas estão inseridas nas mesmas estruturas e representam os mesmo interesses que aceitaram a persistência da fome e da desnutrição apesar de haver produção suficiente para alimentar a todos (Lacey 2000). Paralelamente a este fato, observa-se a destruição das florestas tropicais para a implantação de projetos agropecuários, conduzidos com prejuízos ao ambiente, que ocorreu e vem ocorrendo em ritmo cada vez mais acelerado (Fontes et al. 2003). Em geral, o que se espera de um sistema de produção é a otimização do uso dos fatores de produção (terra, mão-de-obra, capital e tecnologia) com redução de custos, o que gera consequentemente maior renda para a propriedade (Rodrigues et al. 2007), porém, devido às restrições do solo e à falta de práticas adequadas de manejo e suporte técnico, a produção agrícola é extremamente baixa e a maioria das famílias luta para satisfazer suas necessidades básicas (Cullen Jr et al. 2003).
De acordo com Altieri (1998), na agroecologia a produção sustentável deriva do equilíbrio entre plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos co-existentes. O agroecossistema é produtivo e saudável quando essas condições de crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas possuem ou desenvolvem, a partir do manejo, tolerância a estresses e adversidades. Essa estratégia é viabilizada com o desenho de sistemas produtivos complexos e diversificados que pressuponham a manutenção de policultivos anuais e perenes associados com criações. A agroecologia propõe alternativas para minimizar a artificialização do ambiente rural pela agricultura, para o que apresenta uma série de princípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas. Utiliza-se de um enfoque científico, que tem suas próprias ferramentas, teorias e hipóteses, o que lhe permite trabalhar no âmbito dos agroecossistemas e no desenvolvimento de sistemas agrícolas complexos e diversificados (Assis 2006). Associado a isto, observa-se que as populações humanas que ocupam florestas tropicais convivem com a grande diversidade destes ambientes e desenvolvem, cada qual à sua maneira, formas de explorá-los para sua sobrevivência (Pinto et al. 2006); sendo assim, comunidades que viveram por muito tempo em associação com fragmentos florestais frequentemente apresentam um modo de vida intimamente ligado à floresta (Cullen Jr et al. 2003).
Como uma das alternativas conciliadoras entre produtividade e preservação, pode-se realizar o reflorestamento com uso de técnicas agroflorestais, que promove a preservação de hábitats e espécies e assegura o compromisso das comunidades com o reflorestamento. Encorajando a exploração limitada de produtos naturais como lenha, madeira, frutos e forragem vindos das zonas de benefício múltiplo, esta abordagem permite que as comunidades sejam capazes de viver no entorno de fragmentos florestais sem impactar a biodiversidade local (Cullen Jr. et al. 2003). Desta forma, diminuem-se os custos para a reconstituição de áreas degradadas, que é um processo de elevado custo financeiro, cujas iniciativas são recentes e as metodologias utilizadas ainda estão sendo discutidas no meio científico, a fim de evitar possíveis erros que acarretariam no fracasso do plantio e, consequentemente, no desperdício financeiro. Assim, um processo participativo poderia reduzir esses custos, gerando receitas desde a implantação do plantio, graças ao consórcio com culturas agrícolas, e futuramente com o manejo sustentável do componente arbóreo (Rodrigues et al. 2007).
Sistemas agroecológicos, ao integrarem princípios ecológicos, agronômicos e socioeconômicos e socioeconômicos, surgem como possibilidade concreta de implementação de um processo democrático de desenvolvimento rural sustentável a partir de uma ação local, no qual os agricultores tenham condições de assumir a posição de atores principais (Assis 2006), sendo assim, a agroecologia é um instrumento importante na implementação de estratégias para viabilizar produções agrícolas em pequena escala sob administração familiar, em função principalmente da baixa dependência de insumos externos dos sistemas de produção preconizados, que procuram manter ou recuperar a paisagem e a biodiversidade dos agroecossistemas. Desta forma, sistemas agroflorestais podem ser adotados na recuperação de áreas de Reserva Legal em propriedades rurais podendo gerar renda ao produtor graças ao consórcio agrícola. Sua maior ou menor viabilidade irá depender de um manejo mais intensificado na área para a produção agrícola e de preços satisfatórios para a venda no mercado (Rodrigues et al. 2007).
Uma outra alternativa conciliadora seria o aprofundamento da pesquisa em agroecologia- embora recorrendo de inúmeras maneiras ao conhecimento das estruturas subjacentes e da químicas das plantas, solos e insumos de produção agrícola- situa a agricultura integralmente dentro de uma situação ecológica e social, e coloca questões que não envolvem abstrações dela (Altieri 1995 apud in Lacey 2000) proporcionando desta forma a produção de alimentos e plantas medicinais orgânicos além de contribuir para a manutenção dos ciclos ecológicos, não gerando desta forma desequilíbrios e problemas ambientais.
A implementação de sistemas agrícolas sustentáveis depende de mudanças profundas do paradigma do desenvolvimento vigente na sociedade contemporânea, ou seja, entre outros aspectos, na elaboração de estratégias de desenvolvimento fundamentadas nos eixos local e regional (Assis 2006). Desta forma, a combinação da pesquisa ecológica e da ação conservacionista pode proporcionar benefícios diretos tanto às comunidades como à vida selvagem: a restauração de paisagens através da incorporação de questões sociais, econômicas e institucionais, além da colaboração de vários segmentos das comunidades locais como seu objetivo básico (Cullen Jr et al. 2003). As possibilidades de realização bem-sucedida de pesquisas em agroecologia; da expansão e do aperfeiçoamento de cultivos agroecológicos; das atividades e do crescimento de movimentos que englobam os valores representados pelas finalidades da agroecologia (sustentabilidade, fortalecimento popular, etc); e do redirecionamento das prioridades das instituições de pesquisa, estão indissociavelmente interconectadas (Lacey 2007).
Políticas bem planejadas poderiam induzir o desenvolvimento dos agricultores marginalizados. É condição básica, no entanto, o agricultor ser devidamente capacitado. Conhecer os princípios da agricultura orgânica, a integração da agricultura e da pecuária para a fertilização do solo, a importância da biodiversidade, as práticas ecológicas de conservação e todos os outros conhecimentos para cultivar com eficiência técnica e econômica (Mazzoleni & Nogueira 2006).
Baseando-se nos argumentos apresentados, pode afirmar que a agricultura orgânica pode ser um caminho a ser percorrido para a busca da sobrevivência harmônica do ser humano com o seu planeta (Mazzoleni & Nogueira 2006).
Este projeto tem por objetivos capacitar moradores de Barra do Jacuípe e Camaçari em princípios de agroecologia e técnicas de agricultura orgânica, através da realização de cursos de curta duração, além de implementar uma zona de produção orgânica de alimentos e plantas medicinais, na qual será realizado o treinamento inicial de extensão em agroecologia e agricultura orgânica.
Objetivos:
- Realizar um curso para moradores de Barra do Jacuípe e região de Agroecologia e Agricultura Orgânica, visando estimular o desenvolvimento sustentável das comunidades desta região.
- Implementar uma zona de produção orgânica de alimentos e plantas medicinais, na qual será realizado o treinamento inicial de extensão em agroecologia e agricultura orgânica.
Justificativa:
Proporcionar benefícios diretos às comunidades incentivando práticas voltadas para o desenvolvimento sustentável e para a manutenção do equilíbrio ecológico e dos recursos naturais, gerando desta forma alimentos e plantas medicinais produzidos organicamente, através da incorporação de questões sociais, econômicas e institucionais, além da colaboração de vários segmentos das comunidades locais como seu objetivo básico.
Contexto:
Barra do Jacuípe, distrito localizado no litoral norte da região metropolitana de Salvador (BA), de grande potencial turístico e ambiental, caracteriza-se pelo rápido processo de expansão imobiliária. Tal processo leva a população nativa, carente de oportunidades e condições de vida dignas, aos empregos gerados pelo desenvolvimento desenfreado e impactante como a construção civil em condomínios de luxo, geralmente em desacordo com condutas ambientalmente sustentáveis. A agricultura orgânica é amplamente aceita devido aos baixos custos para sua realização e pela geração de produtos orgânicos, propiciando uma alternativa econômica viável e ambientalmente sustentável. Pode-se afirmar que a agricultura orgânica pode ser um caminho a ser percorrido para a busca da sobrevivência harmônica do ser humano com o seu planeta (Mazzoleni & Nogueira 2006).
Desta forma a realização de cursos de capacitação em agroecologia e agricultura orgânica passa a ser de fundamental importância como uma medida para formar agentes multiplicadores que atuem em suas comunidades, realizando práticas de agricultura sustentável com conseqüente melhoria da qualidade de vida e manutenção dos escassos recursos naturais.
O Instituto Planeta Água de Pesquisas Ambientais e Educacionais é uma ONG, sem fins lucrativos, fundada no ano de 2000, com sede em Barra do Jacuípe, que atua em parceria com a comunidade local. Atividades de educação ambiental; cursos de artesanato, capoeira e alfabetização de adultos; reuniões do conselho gestor ambiental local e parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia são algumas das realizações da comunidade e do Instituto desde sua fundação. Desta forma, a combinação da pesquisa ecológica e da ação conservacionista pode proporcionar benefícios diretos tanto às comunidades como à vida selvagem: a restauração de paisagens através da incorporação de questões sociais, econômicas e institucionais, além da colaboração de vários segmentos das comunidades locais como seu objetivo básico (Cullen Jr et al. 2003).
Metodologia:
O programa de agroecologia e agricultura orgânica do Instituto Planeta Água é composto por 4 módulos de cursos gratuitos de 1 mês de duração (40h) cada, realizados na sede do Instituto Planeta Água (Barra do Jacuípe, Bahia), localizado na margem do Rio Jacuípe, área de manguezal e restinga. O primeiro módulo foi realizado em Março de 2009. Neste módulo foram abordados os temas: planejamento agroecológico, interpretação e análise do meio e solos – composição e fertilidade. O segundo módulo foi realizado em Maio e abordou os temas: modelos agroecológicos de plantio e manejo de agroecossistemas. O terceiro e o quarto módulo serão realizados em Agosto e abordarão o tema de beneficiamento de produtos e formação de cooperativas. Ao final de cada módulo os alunos recebem certificado e material didático gratuito.
Resultados:
Capacitação de 15 alunos no primeiro módulo do programa e 8 alunos no segundo módulo do programa. Paralelamente, foi realizada a implementação da zona agroecológica, em uma área degradada, constituída até o momento por composteira, sementeira, 7 hortas ferraduras (39 espécies alimentícias e florestais) (tab. 1), 2 espirais de ervas (14 espécies aromáticas e medicinais) (tab. 2) e um sistema agroflorestal (39 espécies alimentícias e florestais) (tab.1) (fig.2). Podemos observar a multiplicação dos conhecimentos e experiências em agroecologia, de acordo como relatos dos participantes do programa, assim como a familiaridade com os assuntos abordados, valorização da agricultura orgânica, e atuação destes alunos (fig.1) como agentes multiplicadores da agroecologia em suas comunidades, através de projetos de educação ambiental e recuperação áreas degradadas. As principais dificuldades enfrentadas são as condições microclimáticas da área trabalhada, a exemplo da escassez de água seguida do encharcamento do terreno em poucos meses, bem como a baixa fertilidade do solo devido ao alto grau de degradação da área trabalhada, a presença da espécie exótica invasora conhecida como cipó-chumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.) (fig.3) e o baixo envolvimento da população local com o curso.
O primeiro módulo teve início no dia 9 de março e terminou dia 3 de abril, totalizando 40h de curso, de aulas teóricas e práticas. Neste módulo haviam cerca de 20 alunos que freqüentavam o curso, porém apenas 15 tiveram freqüência constante e puderam concluir o curso. Foram abordados os seguintes temas: interpretação e análise do meio, planejamento agroecológico e solos – composição e fertilidade. Durante o mês de março o sol foi muito forte e não choveu, portanto nesta época priorizamos atividades como: capinar, aplicar cobertura no solo e preparar os canteiros de plantio. Foi necessário remover grande quantidade da espécie exótica invasora conhecida como cipó-chumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.), que predominava em grande parte das regiões de plantio. A utilização de matéria orgânica para fazer cobertura e adubar o solo foi fundamental para a melhoria das condições do mesmo, que encontrava-se altamente compactado e com baixo teor de matéria orgânica, o que resulta em baixa fertilidade. Os alunos se envolveram bastante nesta etapa do curso e freqüentaram assiduamente as aulas, sempre acrescentando dúvidas, explicações e conhecimento; alguns deles até trouxeram mudas para serem plantadas na zona de produção. Conseguimos planejar e implementar uma zona de produção agroecológica, utilizando diferentes técnicas de plantio e manejo agroecológico do solo. Ao longo das aulas do curso foram discutidos assuntos como: interpretação e análise do meio, planejamento agroecológico, solos – composição e fertilidade, vasos e canteiros, sucessão ecológica, recuperação de áreas degradadas, técnicas de produção de mudas e morfofisiologia vegetal. Ao final deste módulo foram feitas 3 hortas ferraduras, 2 hortas móbile, uma sementeira, uma composteira, uma espiral de ervas e uma área de sistema agroflorestal. Podemos observar uma boa aceitação, por parte dos alunos, com o curso e desdobramentos como o início de um projeto de recuperação de área degradada, na comunidade de Fonte das Águas, localizada em Arembepe, elaborado por Lenilda e José Lírio, dois alunos do curso. Além disto, outros alunos aplicaram os conhecimentos obtidos no curso em suas propriedades e difundiram estas técnicas entre amigos e familiares. Como desafios deste módulo, podemos citar: o sol excessivo, a falta de chuva, a presença abundante do cipó-chumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.) e o alto grau de degradação do solo.
Passado um mês do fim do primeiro módulo, o segundo módulo teve início no dia 4 de maio e terminou dia 1 de junho, totalizando 40h de aulas teóricas e práticas. Neste módulo haviam cerca de 15 alunos que freqüentavam o curso, porém apenas 8 tiveram freqüência constante e puderam concluir o curso. Foram abordados os seguintes temas: modelos agroecológicos de plantio e manejo do agroecossistema. Durante o mês de maio aconteceu o oposto do observado em março, choveu praticamente o mês todo, resultando em uma grande quantidade de chuva, o que alagou algumas das áreas de plantio. Em decorrência deste elevado volume d’água foi necessário criar um sistema de escoamento e drenagem das águas pluviais. Fez-se um córrego que captava a água que encharcava naturalmente o terreno e a direcionou para a área de manguezal, além disto, fez-se um sistema de valas de drenagem interligadas, de forma que a água que encharcava o terreno era conduzida através das valas a passar ao redor de todos os canteiros antes de ser direcionada para o manguezal. A adição de grandes quantidades de matéria orgânica foi uma estratégia para acelerar o processo de absorção de água. A vala intermediária dos canteiros foi totalmente preenchida com matéria orgânica para aumentar a absorção de água, adubar o solo e ampliar o espaço disponível para o crescimento das plantas. Devido a esse grande volume d’água realizou-se o plantio de novas áreas e as plantas das áreas trabalhadas no primeiro módulo cresceram bastante durante este período. Desta forma, foram realizadas atividades de plantio de novas áreas, poda, capina seletiva e criação de um sistema de valas de captação de água. Novamente, foi necessário remover grandes quantidades da espécie exótica invasora conhecida como cipó-chumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.), que predominava em grande parte das regiões de plantio. A utilização de matéria orgânica para fazer cobertura e adubar o solo continuou sendo aplicada com o mesmo objetivo. Devido às chuvas freqüentes e por vezes torrenciais, os alunos não se envolveram tanto nesta etapa do curso, havendo poucos alunos que freqüentavam assiduamente as aulas, porém o interesse dos alunos continuou elevado e eles acrescentaram novas dúvidas, explicações e conhecimento; além de mudas para serem plantadas na zona de produção. Conseguimos planejar e implementar novas áreas de plantio na zona de produção agroecológica, utilizando diferentes técnicas de plantio e manejo agroecológico do solo. As áreas trabalhadas no primeiro módulo foram manejadas e realizaram-se atividades como: capina seletiva, poda, aplicação de composto orgânico e cobertura do solo nessas áreas. Ao longo das aulas do curso, foram discutidos assuntos como: modelos agroecológicos de plantio, poda, capina seletiva, manejo de organismos espontâneos, controle biológico, sistemas agroflorestais e manejo agroecológico do solo. Ao final deste módulo foram feitas 4 hortas ferraduras, uma espiral de ervas, 2 áreas de sistema agroflorestal e um sistemas de valas de drenagem, captação e direcionamento de águas pluviais. Continuamos observando uma boa aceitação, por parte dos alunos, com o curso, porém a freqüência dos mesmos foi menor neste segundo módulo, devido à grande quantidade de chuvas observada neste mês. Devido a esta condição, teve-se de realizar mais tempo de aulas teóricas e dinâmicas, que abordavam os temas do curso, em sala de aula, pois a chuva impedia a realização aulas práticas na zona de produção agroecológica. Neste módulo ocorreu um maior número de alunos casuais, ou seja, alunos que apenas freqüentavam algumas aulas do curso. Os alunos continuaram aplicando os conhecimentos obtidos no curso em suas propriedades e difundiram estas técnicas entre amigos e familiares, além de dar continuidade ao projeto realizado em Fonte das Águas, por Lenilda e José Lírio. Como desafios deste módulo, podemos citar: a chuva excessiva (que encharcou as áreas de plantio e diminuiu a freqüência dos alunos) e o menor envolvimento, por parte dos alunos, com o curso.
FIGURA 1. Horta ferradura e alunos que participaram do primeiro módulo do curso. Instituto Planeta Água, Barra do Jacuípe–BA.
FIGURA 2. Sistema agroflorestal com 39 espécies. Instituto Planeta Água, Barra do Jacuípe–BA.
FIGURA 3. A presença da espécie exótica invasora conhecida como cipó-chumbo (Cuscuta racemosa Mart. et Humb.) na área de trabalho. Instituto Planeta Água, Barra do Jacuípe–BA.
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